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Aquela família


"Como somos uma espécie condenada, prisioneira num barco, como tudo é uma farsa de mau gosto, desempenhemos, afinal de contas, nosso papel; mitiguemos as penas dos nossos companheiros de prisão. Decoremos o calabouço com flores e almofadas; sejamos o mais corretos possível." Virginia Woolf – Mrs. Dolloway

Era como se tudo fosse um sonho, ou melhor, deveria ser um sonho, algo totalmente restrito a uma noite, a um suposto estado catatônico do subconsciente, mas não era, era um pensamento, vivenciado em plena luz do dia, banhado ao som de alguma música no mínimo desafiadora à própria existência, formando uma atmosfera viciosa de nostalgia, de saudade, de apego ao que é puro, em outras palavras, uma separação de si mesmo.
Foi um pensamento, algo provocado pela Virginia Woolf com suas palavras tão irônicas e tão insensíveis, talvez um pouco de suas crises depressivas e de sua visão tão crua da vida.
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Quanto a mim, eu me limito a viver por eles, ou pra eles, eles não sabem quem eu realmente sou, mas de qualquer jeito eu sou tudo o que eles tem, eu queria deitar nos seus braços e dizer o quanto estou cansada, entregar meus pensamentos frustrados através das minhas lágrimas na sua camisa passada. Eles são a melhor coisa que eu já tive, minhas preciosidades...um pedaço de mim mesclado com tudo aquilo que eu quis ser.
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Somos felizes, somos a parte não afetada desse imenso céu azul, temos aquilo que queremos em mente, corremos atrás do que nos interessa, vivemos à parte de tudo isso.
Porque nós temos que sentir uma culpa que não é nossa? Porque nós temos que chorar sem motivo à noite? Porque tudo volta pra esse céu azul?
Somos jovens e viveremos com nossas futuras famílias, e isso vai acabar, mas somos felizes, sim.
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Eu sempre cumpri meu papel, sempre fui o provedor, sempre me mostrei capaz de qualquer coisa, eles sabem que podem confiar em mim, continuo fazendo meu papel de mostrar que sou capaz e que posso, eles sabem disso. Procuro uma estabilidade que eu ainda não encontrei, procuro descansar minha mente em Seus braços, entregar, pelo menos verbalmente, minha vida no chamado paraíso...é tudo o que me restou.

4 comentários:

Anônimo disse...

quase uma bela mistura de ficção e realidade? quase uma realidade se disfarçando de ficção? quase?

Anônimo disse...

Adorei o texto. Pensei em alguma coisa assim quando postei o texto de hoje. Estou um pouco desesperada e, não sei se vale muito ser algo através dos outros.

=*

Anônimo disse...

Viajei nesse post. Belo texto.
Beijos!!!

Flávia disse...

E como não viajar com tais dizeres?
Bom findi moço!
Bju